Será que vou conseguir ter filhos?
A dúvida tem acometido não só mulheres mais velhas, mas meninas muito jovens também. Conheça aqui os sinais da fertilidade
Escrito por Dra. Marianne Pinotti – CRM: 80.339
Recentemente, uma paciente muito querida, de quem cuido desde os 15 anos e que hoje tem 32, agendou uma consulta para me perguntar se deveria congelar seus óvulos. Após uma longa conversa, chegamos juntas à conclusão de que seria uma medida excessiva, já que ela e seu esposo são saudáveis, sem nenhuma história pregressa que pudesse preocupar. Solicitei então um check-up para ambos que querem aguardar mais um ano antes de tentar engravidar. Conto o fato pois tem sido uma constante no meu dia a dia essa preocupação de mulheres em idade fértil.
As estatísticas mundiais demonstram que 10-15% dos casais são inférteis, porcentual que varia não apenas geograficamente, mas de acordo com vários outros fatores, entre eles a atividade profissional das mulheres, que hoje em dia adiam o projeto de ter filhos para mais tarde.
Os principais fatores que causam as dificuldades em ter filhos se dividem em: problemas com a ovulação (hormonais), como a síndrome dos ovários policísticos; fatores tubo-ovarianos que impedem o funcionamento pleno das trompas, cuja causa mais comum são as infecções pélvicas e a endometriose. No primeiro caso, fatores imunológicos e de coagulação — uma área bastante nova e controversa; fator masculino e a esterilidade sem causa aparente, quando os exames são todos normais mas a gravidez não acontece.
Outros aspectos que devemos considerar são a idade, principalmente a feminina; uso de lubrificantes e duchas vaginais. No segundo caso, é que podem interferir na sobrevida dos espermatozoides; excesso de peso ou índice de massa corpórea abaixo do normal; excesso de exercícios físicos; uso frequente de fumo, álcool, maconha ou outras drogas; medicamentos como antidepressivos, antieméticos e fatores ambientais e de irradiação.
Como se trata de uma questão de saúde multifatorial, existe uma razoável complexidade envolvida desde o diagnóstico das causas até seus tratamentos, e na grande maioria das vezes as chances de sucesso são grandes. A avaliação inicial é simples e já descarta várias dessas causas: nas mulheres, devemos checar a periodicidade menstrual, os hormônios relacionados à ovulação, a anatomia uterina e a permeabilidade das trompas; para os homens, um simples espermograma é suficiente.
Os tratamentos disponíveis vão desde uma simples orientação sobre o período fértil até os mais complexos métodos de fertilização assistida (bebê de proveta), que, apesar de muito eficientes, não são indicados em muitos casos. Cito aqui todas as alterações imunológicas e de coagulação que não são corrigidas e dificultam ou impedem o sucesso de um processo de fertilização in vitro.
Não obstante o diagnóstico e o tratamento da esterilidade constituírem uma subespecialidade da ginecologia, são poucos os serviços públicos que atendem casais estéreis de forma eficiente. Existe um certo preconceito com o tema por diversas razões. De um lado, existe ainda a convicção entre os responsáveis pela política de saúde (pública ou privada) de que a esterilidade não constitui um problema de saúde pública, pois ninguém morre por não ter filhos e isso não exerce, portanto, nenhuma influência sobre os indicadores da saúde tradicionais. De outro lado, prevalece o conceito distorcido de que já exibimos um índice de natalidade bastante alto e não é necessário aumentá-lo.
Tudo isso deixa muitos casais “abandonados” e sem opção, já que os tratamentos são caros, não cobertos por convênios e o sistema público de saúde não oferece acolhimento e resolutividade nessa área.
Por último, é importante lembrar que a esterilidade comporta medidas preventivas, que incluem hábitos de vida saudáveis, boa alimentação e exercícios físicos, manutenção do índice de massa corpórea dentro da normalidade, atenção no uso de medicamentos, cuidados com a saúde sexual já que várias DSTs são causa de esterilidade e, por fim, atenção com a idade, principalmente no caso das mulheres, pois temos um limite de fertilidade. Assim, os jovens casais poderão planejar sua família com tranquilidade e, se aparecerem problemas, eles serão mais facilmente solucionados.
Publicado originalmente no Blog Letra de Médico do site da Veja: https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/sera-que-vou-conseguir-ter-filhos/