Saúde Pública, Críticas e Reflexões

Saúde Pública, Críticas e Reflexões

junho/2014 em Artigos

Dr. Marcelo  Gennari é médico, pós-graduado em ginecologia e mastologia na Europa e EUA , doutor pela USP, coordenador vigilâncias em saúde da cidade de Ferraz de Vasconcelos, ex-diretor técnico Hospital Pérola Byingthon, membro da equipe técnica e da família do renomado médico e político José Aristodemo Pinotti.

Pergunta: Como você vê a Saúde Pública hoje?

Dr. Gennari: Nossa Saúde Pública esta doente. Muitos a tratam como mercadoria, deixando de lado o consumado fato do respeito aos direitos do cidadão. Direito a assistência digna, com acolhimento, acesso tecnológico, sem distinção entre pobres e ricos.

Pergunta: Como começar a melhorar essa situação?

Dr. Gennari : Adotando critérios de gestão que integralizem, bom atendimento ao usuário, investimentos em recursos humanos e acesso a tecnologia, priorizando três pontos principais:

  • Disponibilizar  capacitação, reciclagem e aperfeiçoamento aos funcionários e prestadores de serviço nas áreas de saúde pública, educação e promoção social.
  • Incluir o potencial acadêmico junto a gestão pública, possibilitando participação de  docentes, acadêmicos na assistência, introduzindo automaticamente protocolos técnicos e métodos que ampliem as taxas de resolutividade.
  • Participação efetiva da equipe multidisciplinar ( psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, enfermagem,etc.) na consulta médica, sempre supervisionados.

Pergunta: Em linhas gerais…

Dr. Gennari: A atenção integral a saúde, além de aumentar o numero de consultas, melhora os índices de resolução dos casos de doença, ou seja, uma consulta ideal deve durar em média 30 minutos, infelizmente no atual modelo,esta consulta dura menos de 15 minutos e o médico, atende em média 16 pacientes por período, com atendimento quase sempre direcionado a questões imediatistas e pouco resolutivas. Com a atenção integral a saúde da mulher, integramos atividades com as mais diversas especialidades, ampliando número de consultas, com melhor aproveitamento para identificação, diagnóstico e tratamento das diversas doenças das mulheres.

Pergunta: Se eu entendi, quando o médico chega para examinar o paciente, os demais membros da equipe já o prepararam para a consulta e se encarregam de outros aspectos, como o burocrático, coleta de dados para pesquisa e estratégia,educação para saúde, orientações etc., deixando mais tempo para o médico se concentrar no problema do paciente.

Dr. Gennari: Sim! Este modelo de gestão foi implantado e sedimentado pelo nosso inesquecível Prof. Pinotti no Hospital Pérola Byingthon e no CAISM na cidade de Campinas. Inclusive ganhou destaque internacional, sendo premiado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), ao introduzir a equipe multidisciplinar no ato da consulta médica.

Pergunta: E as universidades?

Dr. Gennari : Precisamos inserir o academicismo, levar a academia (os docentes, estudantes) ao atendimento à população, e não mantê-los afastados da realidade.

Pergunta: Explique?

Dr. Gennari: O aluno é o melhor controlador de qualidade que pode existir numa instituição, pois ele questiona tudo, cobra de seus professores, exige atos lícitos, melhorando o atendimento. A instituição acadêmica a meu ver tem papel fundamental nesse processo, e deve procurar mecanismos inovadores para estender seus apêndices às populações mais necessitadas, sejam através de ações diretas ou por convênios com instituições privadas sem fins lucrativos.

Pergunta: Falta de dinheiro é o maior problema?

Dr. Gennari: Os maiores problemas são de gestão, não são de ordem financeira, visto que se gasta quase 10 vezes mais para tratar doenças mais avançadas, e hoje, nós sabemos muito bem como prevenir, detectar precocemente e tratar as doenças, antes que as mesmas causem danos irreparáveis basta fazê-lo.