Combate ao Câncer de Mama no Brasil

Combate ao Câncer de Mama no Brasil

outubro/2016 em Artigos

toquemama

“Há agora um bom programa federal, promessa de verba e mamógrafos. Mas é preciso ter cuidado para que tudo não se perca nas boas intenções”

O câncer de mama é a neoplasia mais frequente entre as mulheres brasileiras, seguido pelas neoplasias de colo de útero e pulmão.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), ocorrem em média 50 mil novos casos de câncer de mama e cerca de 13 mil óbitos por esse tumor anualmente.

A mortalidade é relativamente alta para os casos mais avançados, que requerem tratamentos complexos e onerosos, além de causar sofrimento físico e emocional às pacientes. Em contrapartida, casos diagnosticados precocemente, com menos de 2 cm de diâmetro, podem ser tratados com cirurgia conservadora -ou seja, com preservação da mama, associada eventualmente a outros tratamentos complementares, permitindo índices de cura em mais de 90% dos casos.

Apesar de alta frequência do tumor, não existe ainda no país uma ampla estrutura que permita às mulheres atendidas pelo SUS, a grande maioria das brasileiras, a garantia de um atendimento digno, focado não apenas no tratamento, mas em prevenção e diagnóstico precoce.

As discussões avançam sob a égide da gestão madura, com avaliação dos recursos humanos e tecnológicos disponíveis e da sua distribuição pelo país e com metas de atendimento populacional calcadas em conhecimentos científicos.

O sucesso do programa passa por garantir a todas as mulheres com mais de 40 anos o acesso à avaliação clínica e à mamografia.

Existem hoje mais mamógrafos na rede do que o realmente necessário, mas cerca de um terço deles está avariado e estão distribuídos pelo Brasil de maneira inapropriada.

Por outro lado, especial atenção tem que ser dada às mulheres que, por fatores genéticos ou ambientais, têm risco mais acentuado de desenvolver o câncer de mama.

Complementarmente, sabe-se que o controle de qualidade de feitura e leitura dos exames é primordial, algo que esse grupo de trabalho está enfatizando. Finalmente, não basta diagnosticar, mesmo que precocemente. É primordial garantir à paciente com essa doença o acesso ao tratamento, dentro dos preceitos terapêuticos mais atuais.

Para que tudo isso seja realidade em futuro próximo, é fundamental vontade política, já demonstrada com a criação do programa e a alocação de consistente verba. Contudo, só existirão avanços com uma gestão moderna, com metas e indicadores bem definidos, constantemente auditada e avaliada, sob pena de se perder nas boas intenções.

Sinto-me gratificada por poder estar participando desse programa desde seu início, impregnada que fui pela visão pública de meu pai, o professor José Aristodemo Pinotti, que apregoava um Programa Nacional de Controle do Câncer Feminino para, em tempo relativamente curto, diminuir de maneira substancial a mortalidade das mulheres brasileiras por câncer.

Dra. Marianne Pinotti, 48 anos, Médica, Doutora pela USP, Coordenadora do Programa de Sustentabilidade em Câncer de Mama do Ministério da Saúde/Hospital Oswaldo Cruz.